sábado, 28 de novembro de 2009

A artista plástica Lica Moniz está no MAM com Tempo de Fundo


O título é um termo de mergulho que significa profundidade x tempo. Sobre isso, Lica sugere metáforas, como um mergulho, a fundo, dentro de si




Kiki Moniz

Séculos se passaram e o pedaço de terra que, entre o XVI e XVII, fora posse dos beneditinos e, depois, cenário senzala, foi modelado pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi nos anos 1960, para abrigar, à beira da Baía de Todos os Santos, o Museu de Arte Moderna da Bahia, o MAM. Lá, o mar azul anil e sol forte que queima e cintila a água deixa qualquer visitante extasiado. Lica Moniz, que todos os finais de semana passeia nessa água calma, está encantada, satisfeita. Estreou em 10 de novembro com Tempo de Fundo nas salas da Galeria Subsolo, congratulada com a vista necessária para o contexto da exposição.

O mar é o objeto, o espaço e o conceito das criações, fruto do trabalho de conclusão de Mestrado em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da UFBA. Todo esse diálogo pode ser visto até 9 de dezembro e sintetiza as sensações que acompanham Lica ao longo de uma vida imersa em mergulhos a bordo de um veleiro.




Valéria Simões

“Ela traz em sua obra uma ruptura com os suportes e espaços tradicionais na arte, exigindo uma postura não apenas contemplativa, mas participante e consciente da materialidade e da fenomenologia do mundo em que habitamos”, descreve a professora Dra.Viga Gordilho, orientadora da dissertação, em texto de apresentação. O sentido de Tempo de Fundo foi composto por quatro criações, e uma delas, a 4°, apareceu apenas na noite de abertura, 9 de novembro – uma intervenção com luzes e mar, que explica no vídeo abaixo, gravado na ‘visita guiada’ da quinta-feira, 25 de novembro.






Kiki Moniz

Já o espaço de Tempo de Fundo 1 foi o bônus da artista para o público. A sala pequena tinha, no chão, água salgada, sobreposta por um tablado vazado de madeira, representando um píer. O cenário está dado, mas quem suga a atenção do visitante são as páginas, contra capas e folhas de rosto pregadas na parede. Tudo original, partes dos livros revisitados tantas vezes por Lica. Dentre eles, O Livro das Maravilhas, de Ramon Llull, Os Velhos Marinheiros, de Jorge Amado, Relatos de um Naufrago, de Gabriel Garcia Marques e 20 000 Léguas Submarinas, de Júlio Verne. “Eu não pude usar tudo isso na minha dissertação, mas é uma maneira de mostrar o que me acompanha. São minhas influencias, leituras que me formaram, é como se fosse uma só página de livro, do agora”, explica Lica.

Kika Moniz
Para o resultado aspirado em toda a exposição, ela precisou juntar o repertório marítimo e artístico aos de biologia e arqueologia para a seleção das coletas de objetos encontrados no fundo do mar, expostos dentro de vasos, em uma sala escura: a Tempo de Fundo 2. São redes de pescador, espinhas do peixe budião azul, destroços de lixos que, na ideia de Lica, tomaram proporção artística. “A arte tem disso, quem diz que aquilo está sacralizado como objeto de arte é o artista”, diz. Confessa que sustentou um freio em relação às manifestações artistas contemporâneas, que perdurou até 2005, época em que percebeu que podia associar o seu cotidiano à produção. “Tive vários embates até entrar, entender e gostar. Hoje, minha paixão é a arte contemporânea”, afirma.
Na sala próxima, também escura, ouvê-se o intenso som de respiração da artista em 40 m e, depressa, a luz azul também chama a atenção. É o recanto de Tempo de Fundo 3. O azul vem horizontal ao chão, como o mar, e é uma filmagem em tempo real do momento do mergulho - aparecem índicios, por exemplo, de Lica afundando com uma bóia e sua mão segurando o cabo. Mas, mesmo com todo efeito, segundo Lica, a simbologia não a satisfaz no sentido visual. "Muito mais que a imagem, para mim, o mais importante é o som. Quando a gente está nessa ação, esquece que o mar é grande, que chega a todas as partes do mundo. Sente apenas você e você. O seu coração escuta a sua respiração e as bolhas. É uma coisa que internaliza, justamente o contrário da imaginação das pessoas que não têm essa experiência, acham que estão na imensidão. Mas é o contrário, é algo que vai para dentro, para o fundo", relata a artista.

Visitantes & Impressões
Lica Moniz relatou os passos dados para a execução da exposição em 25 de novembro. Dentre os interessados, estavam mais ou menos 25 pessoas, dentre estudantes de Belas Artes e público em geral. Nos podcasts abaixo, três deles contam as sensações em relação à Tempo de Fundo.

1. Nelia Maciel - Professora de Belas Artes da UFBA

2. Vitória - Técnica administrativa

3. Darlan Santana - Estudante de Belas Artes da UFBA




Você também foi a essa exposição? Participe, deixe o seu comentário!

Nenhum comentário:

Postar um comentário